Ex-padre de Jundiaí tem excomunhão revertida e volta à Igreja Católica como leigo; entenda o processo
Após nove anos afastado, Wilson Vitoriano tem excomunhão revertida pela Diocese de Jundiaí (SP) após pedido Arquivo pessoal A Diocese de Jundiaí (SP) comun...
Após nove anos afastado, Wilson Vitoriano tem excomunhão revertida pela Diocese de Jundiaí (SP) após pedido Arquivo pessoal A Diocese de Jundiaí (SP) comunicou, na terça-feira (16), a reversão da excomunhão do ex-padre Wilson Vitoriano. Ele havia sido excomungado da Igreja Católica em 2018, após solicitar desligamento para ingressar na Igreja Anglicana. No comunicado, a Diocese informou que Wilson passou por atos canônicos que possibilitaram a concessão da remissão. Entre eles, estão a profissão de fé, a renúncia explícita de erros anteriores e a leitura e assinatura do decreto de Remissão da Censura de Excomunhão. 📲 Participe do canal do g1 Sorocaba e Jundiaí no WhatsApp Veja os vídeos que estão em alta no g1 Ao g1, o vigário-geral da diocese, padre Carlos José Virillo, explicou que, a partir da realização do rito, Wilson está autorizado a voltar a frequentar a Igreja Católica na condição de leigo, termo utilizado para designar fiéis que não exercem cargos religiosos. "Ele pode voltar à Igreja Católica como um fiel, pode receber sacramentos, pode comungar, frequentar missas, pode confessar. Mas não pode exercer o clero, o ministério presbiteral. Para isso, ele precisará pedir uma autorização ao Papa Leão XIV, em Roma", explica. LEIA TAMBÉM: Padre de Sorocaba realiza missão em comunidade do Pará: 'Me fortalece' Padre Júlio Lancelotti critica decreto que prevê a internação involuntária de dependentes químicos em Sorocaba Acamada por 48 anos e ativista: quem é Maria de Lourdes Guarda, brasileira reconhecida como venerável pelo Papa Leão XIV O comunicado publicado nas redes sociais da diocese esclarece que a readmissão ao exercício do ministério presbiteral não compete à autoridade do bispo diocesano e depende exclusivamente de decisão do papa, por meio de processo próprio junto ao Dicastério para a Doutrina da Fé, conforme prevê o Cânon 293 do Código de Direito Canônico. A excomunhão de Wilson foi decretada em 2018, mas o processo começou em 2016, quando ele comunicou à Igreja o desejo de deixar o catolicismo para professar a fé anglicana. "Foi considerado um ato de heresia e de cisma. Este ato impôs a excomunhão latae sententiae, ou seja, automática. O ato de deixar a igreja torna passível o padre de receber a excomunhão", completa o vigário-geral. Segundo o padre Carlos Virillo, Wilson exerceu o ministério sacerdotal por 28 anos e foi pároco da Paróquia Cristo Redentor, em Várzea Paulista (SP), durante 14 anos. Pedido para retornar Wilson solicitou o retorno à Igreja Católica em outubro deste ano, após nove anos afastado. Ao g1, ele afirmou que foi bem acolhido pela Igreja Anglicana, mas que sentiu a necessidade de voltar ao catolicismo. "Há um tempo eu já estava querendo voltar, mas o tempo é de Deus. A Igreja Anglicana me acolheu muito bem, eu tenho um carinho muito grande por todos os anglicanos, pela Igreja Anglicana, porém a minha fé realmente, meu coração é católico romano. Então, eu resolvi voltar", comentou. A primeira etapa foi procurar o bispo diocesano de Jundiaí, Dom Arnaldo Cavalheiro Neto, para comunicar a intenção de reverter a excomunhão. Após cumprir os atos canônicos exigidos, Wilson obteve a liberação. Agora, o fiel pretende solicitar ao Dicastério, em Roma, a autorização para retornar ao cargo eclesiástico, e afirma estar confiante na reversão. "Estou muito confiante. Deus conhece o meu coração. Eu amo ser padre, amo ser sacerdote, amo celebrar missa e eu tenho certeza de que a Igreja vai compreender e ela vai me dar esse voto de confiança. Eu quero voltar a celebrar missa, a Santa Missa na Igreja Católica", afirma. Papa Leão XIV Yara Nardi/Reuters Anglicanos e católicos O anglicanismo é uma tradição cristã surgida na Inglaterra no século XVI. A denominação é conhecida por buscar um equilíbrio entre elementos da tradição católica e princípios das Reformas Protestantes. A Igreja Anglicana, também chamada de Igreja da Inglaterra, é a igreja-mãe do anglicanismo, que reúne uma ampla comunhão de igrejas espalhadas pelo mundo. A professora de teologia da PUC-Campinas Ivenise Teresinha Gonzaga Santinon explica que a Igreja Anglicana também possui bispos, padres e presbíteros, de forma semelhante à Igreja Católica. No entanto, há diferenças significativas entre as duas tradições. "O anglicanismo não tem a autoridade do papa como absoluta. Aliás, a autoridade máxima anglicana é descentralizada e tem como figura maior o arcebispado da Cantuária, que atualmente é a Sarah Mullally, a primeira mulher no cargo. É a líder espiritual da Comunhão Anglicana global. Ou seja, não tem um poder supremo, como é o Vaticano na católica", inicia. "As mulheres estão na hierarquia, diferentemente da católica, que não podemos por definição dogmática e, não, teológica. Na anglicana, padres e sacerdotisas podem se casar, antes ou depois da ordenação, não há exigência de celibato clerical. Isso diferentemente da Igreja Católica de rito latino, pois a católica, no rito oriental, há padres casados", cita a teóloga. Ivenise ressalta que processos de remissão de excomunhão não são comuns. "Não é algo que acontece com frequência. Inclusive, eu, que já tinha conhecimento da excomunhão de Wilson Vitoriano, fiquei surpresa com o comunicado de que ele foi reintegrado à Igreja Católica." Basílica de São Pedro, no Vaticano Arquidiocese de Rio Preto/Divulgação Veja mais notícias da região no g1 Sorocaba e Jundiaí VÍDEOS: assista às reportagens da TV TEM